IoT: quando a inteligência está embarcada no software e na rede
[:pb]Por Laura Loenert*
A Internet das Coisas (IoT) já está muito mais presente nas nossas vidas do que imaginamos, apesar da aparente natureza de “ficção científica” que envolve o funcionamento desses dispositivos. Isso porque, com muito pouco dinheiro e uma pitada de criatividade, aparelhos muito úteis são desenvolvidos, e podem, inclusive, fazer a diferença entre a vida e a morte de uma pessoa. Esse foi o caso de um garoto, por exemplo, que em um hackathon decidiu criar um dispositivo ativado por rede WiFi que dispara um alarme para monitoramento de idosos a partir da detecção de queda. Infelizmente ele teve a ideia depois de perder o avô, que sofreu um AVC e recebeu socorro somente duas horas depois, quando foi encontrado. Com o dispositivo no bolso, porém, ele teria todas as chances de ter sobrevivido ao acidente.
Um outro exemplo bastante conhecido do dia a dia de muita gente, e não apenas no Brasil, é o Waze. Digamos que o aplicativo não é reconhecido propriamente como um dispositivo IoT, mas não se engane: “o Waze consegue prever os fluxos de trânsito através do monitoramento do sensoriamento feito pelas pessoas, e isso é de graça”, explica Jomar Silva, evangelista técnico da Intel para a América Latina. “Imagina sem essas tecnologias que a gente tem hoje, quanto custaria para uma empresa colocar um sensor em cada carro, e montar uma rede de comunicação que capaz de monitorar os carros para só então vender serviços de controle de fluxo”, diz. “É o que o Waze faz: cada um dos usuários é um sensor do Waze, enviando dados, tudo sendo processado em tempo real”.
Desafios técnicos em IoT
Os desafios para quem projeta um sistema IoT são vários, e abrangem fatores não apenas técnicos, mas principalmente de negócio, sendo o primeiríssimo deles a questão da segurança e credibilidade. “Como é que eu tenho certeza que aquele sensor que estou conectando à minha rede é um sensor autorizado? Como vou garantir que somente eu acessarei aquele dado? E como vou tratar essas informações para garantir coisas fundamentais como privacidade para quem está usando o sistema?”, questiona Jomar Silva. “Imagine um sistema de reconhecimento facial instalado na porta de uma casa que registra e reconhece todos os rostos que passam por essa porta. Para onde está indo essa informação? Você se sentiria confortável passando em frente a uma porta dessas?”. A solução dessa equação, por ser tão óbvia, pode surpreender muitos: a única forma de garantir a privacidade é com mecanismos de segurança, e consequentemente também de controle.
O segundo fator crucial para IoT é a interoperabilidade. Ou seja, a capacidade dos sistemas comunicarem entre si independente de marcas ou fabricantes – um desafio que, como já é sabido, passa pela padronização de componentes. O terceiro fator é a integração da “Operations Tecnology” (OT) – que move o chão de fábrica – com a “Information Technology” (IT). Jomar conta que, de 8 anos para cá, já existe muita computação e serviço de rede inteligente rodando no chão de fábrica, porém é ainda uma realidade distinta da TI. “Nas empresas, costumava-se ter dois departamentos: o de TI, cuidando do ERP, e o departamento de monitoramento cuidando da fábrica. Esses dois caras não se conversam, no geral, e são duas redes segregadas, sendo que um não quer que o outro encoste na sua rede”. É, mas o cenário atual de transformação digital vem revolucionando também esse cenário. Afinal, o dono da fábrica não quer saber se o problema está do lado A ou do lado B.
Ele quer ver todos os sistemas funcionando, e preferencialmente hiperconectados e com análise de dados em tempo real (alguém falou em Indústria 4.0?). “Então se a máquina está dando uma vibração estranha, e tenho que agendar uma parada para fazer uma manutenção preventiva nela, eu quero saber o seguinte: no meu pipeline de pedidos que chegam, qual é o momento em que, parando essa máquina, vou perder menos dinheiro? E somente após essa análise eu vou agendar a parada dentro dessa janela”, explica Jomar. É esse o nível de resposta e precisão que serão cada vez mais demandados pelo mercado e pelas indústrias, principalmente. E, nesse contexto, a integração entre OT e IT é dificílima tanto do ponto de vista técnico, por serem dois mundos que não se conectavam diretamente, e também, e talvez principalmente, do ponto de vista humano, porque são duas áreas em plena transformação: empresas e indústrias, que antes não dialogavam.
E o quarto e último: analítico avançado. A quantidade de informação que é coletada é brutal, e cresce exponencialmente. Logo, a grande questão é: porque coletar esse monte de dados se não houver serventia, na prática? Portanto, extrair valor dessas informações é extremamente importante.
Desafios de negócios na IoT
Do ponto de vista dos negócios, o primeiro problema a ser resolvido é a escalabilidade da solução. E é aqui que entra a primeira dica do Jomar Silva para “iniciantes” na IoT: você acaba de validar um modelo que inclui Arduino e Raspberry Pi, e já possui dois clientes. Agora, o seu modelo de negócio escala? Se você tiver 4 mil clientes em 2 anos, ou 10 mil (conhecido popularmente como “problema bom”), você vai conseguir lidar com o fornecimento de todo esse hardware? Em outras palavras, como você escala a sua solução? Como distribui para outros locais? Como consegue trabalhar em ambientes onde dependerá de certificações específicas para instalar equipamentos?
Como se vê, escalar a solução é um enorme desafio de negócio na Internet das Coisas. Outro grande desafio, e em especial no mercado brasileiro, é manter o equilíbrio entre custo x ROI, para não acabar vendendo a R$ 10 um produto que custou R$ 90 para ser desenvolvido. (Outra coisa que parece óbvia, porém só detectável se houver muita estratégia e planejamento envolvido em todas as etapas do processo).
A segurança também é um requisito fundamental, claro. E só para ter uma ideia de como seria um mundo – absolutamente caótico – onde todos os sistemas IoT são hackeáveis, Jomar dá a dica do game “Watch Dogs”, lançado em 2014, onde um hacker “grey hat” se mostra altamente qualificado e habilidoso em sua capacidade de se infiltrar em sistemas eletrônicos, e deste modo penetrar no ctOS, um sistema centralizado todo ligado em rede, que por sua vez coordena a hiper controlada cidade de Chicago (no jogo, uma versão fictícia da cidade real). Pelo menos é uma boa forma de testar a tragédia de não zelar pela total segurança e controle de sistemas IoT.
O entrave causado por soluções fragmentadas de dispositivos também passará por uma enorme transformação durante o processo de implementação e consolidação da Indústria 4.0. Hoje, temos “prédios inteligentes” que contam com: 1) sistema de controle da iluminação; 2) sistema de controle do ar-condicionado; 3) sistema de controle da entrada; 4) sistema de controle do elevador, cada qual com sua respectiva empresa e contrato de manutenção, dando origem a soluções fragmentadas de IoT. Agora, imagine conectar todos esses sistemas? Daqui para frente e cada vez mais, os gestores tendem a buscar a integração de todos os dispositivos para economizar dinheiro para investir em coisas realmente interessantes – como inovação, por exemplo.
Jomar Silva apresentou-se na Latinoware 2017, com a palestra “Do dispositvo à nuvem de forma inteligente”, onde destacou não apenas o panorama geral da IoT na atualidade, mas também a importância da comunicação integrada e otimizada entre rede e gateway, e claro, também sobre o famoso “Intel IoT Developer Alliance Program”, que oferece kits IoT para developers que estão começando a se aventurar na área. Jomar também é enfático ao afirmar que, para aprender IoT, é necessário mergulhar no sistema Linux, a base de todos os projetos neste segmento.
Abaixo você assiste à íntegra da palestra de Jomar Silva na Latinoware 2017:
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*Jornalista viajou a convite da empresa 3DCloner[:]