O que você faria com uma nuvem peer-to-peer de código aberto?

[:pb]Por Laura Loenert*

Jon “Maddog” Hall é um convidado mais que ilustre entre os principais eventos de software livre no Brasil. Afinal, ele esteve presente em praticamente todas as edições da Campus Party, FISL e Latinoware. Apaixonado pelo país – talvez mais até do que muitos brasileiros – o “cachorro louco”, há tempos muito mais dócil, sabe como cativar e usar seu conhecimento para promover, em cada ação, a premissa básica do software livre e de código aberto (FOSS): compartilhar e se empoderar para usar a tecnologia a favor da liberdade individual. De que jeito? A resposta mais curta: buscando uma forma sustentável de ganhar dinheiro com isso.

Um dos “gritos de independência” mais recentes de Maddog nesse sentido foi na edição de 2015 da Latinoware, onde lançou o “Projeto Cauã” que, nas palavras do próprio, tem por objetivo “ajudar pequenas empresas, ou mesmo cidadãos comuns, com uma oferta de rede de estudantes qualificados para realizar a manutenção preventiva de sistemas computacionais, que poderão ajudar essas empresas a obterem melhor desempenho de seus computadores”. Em outras palavras, a proposta de Maddog busca fomentar o empreendedorismo em campus, por assim dizer.

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Maddog é o “embaixador” da nuvem p2p opensource Subutai no Brasil

Na Latinoware 2017, contudo, ele foi muito mais além, ao unir Internet das Coisas + Computação em Nuvem + Criptomoeda. Curioso para saber como essas coisas se interconectam? Bem, a interconectividade é a característica fundamental da chamada “Industrie 4.0” – e muito falamos sobre isso neste site ao longo deste ano. A “Industrie 4.0”, por sua vez, é a base da chamada “4ª Revolução Industrial”, outro assunto bem recorrente nos últimos meses. E no bojo de tudo isso, como a última camada da cebola que envolve todo o resto, está a descentralização de sistemas como nunca se viu antes.

Descentralização com hiperconectividade. Parece assustador? De fato é, se pensarmos que essa ruptura radical também irá afetar – como na verdade já afeta – o sistema financeiro com o qual estamos acostumados a lidar no presente. Sendo assim, a criptomoeda representa o elo que faltava para alcançar a liberdade individual proporcionada pelo avanço tecnológico sem precedentes nos últimos anos. (Claro que com uma grande ajuda do software livre, mas essa é uma outra – e longa – história).

Grand Slam


“Eu costumo dizer que as pessoas perdem o conceito de liberdade porque a liberdade é uma coisa difícil de entender. No entanto, elas entendem bem o conceito de escravidão, onde somos induzidos a tudo: desde onde ir e o que fazer, até com quem se casar ou quando ter filhos, sendo que a “escravidão do software” começa quando você é induzido a aposentar seu sistema atual ou a atualizá-lo à revelia, por exemplo”, provoca Maddog. Acontece que a Internet foi criada para ser distribuída – e livre! – ao passo que a computação em nuvem [ainda] é centralizada.  

Maddog vai ainda mais longe: nós sempre pagamos pela nuvem, seja comprando espaço computacional que vamos usar, espaço excedente que acabamos não usando, ou mesmo permitindo que os dados possam ser usados para estratégias de marketing dos diferentes provedores de nuvem. Se você pensou neste momento em privacidade, sempre é bom lembrar que, geralmente em operação em outros países, esses provedores de nuvem também podem ser forçados a examinar seus dados por força de leis locais. Portanto o controle, neste caso, está nas mãos das grandes corporações de nuvem, sendo que a Internet das Coisas (IoT), motor da “nova” revolução industrial, acaba perdida na fog computing. Mas então como unir Internet das Coisas + Computação em Nuvem + Criptomoeda em favor da liberdade do usuário?

A resposta está longe de ser simples, mas já tem um caminho proposto: trata-se de uma nuvem peer-to-peer chamada Subutai, totalmente autenticada, descentralizada, privada e segura. Um sonho? Talvez, mas que vem se tornando realidade desde o surgimento da OptDyn, em 2013, empresa por trás da suite de soluções que inclui a Subutai e da qual Maddog é atual CEO.

 

“Queremos poder controlar tudo: nosso hardware, nosso software, nossas aplicações e nossa nuvem; a Subutai é uma nuvem peer-to-peer. Você começa com seu computador, configura a Subutai e então pode se conectar a outros computadores que executam a Subutai, diretamente. Ela usa containers na nuvem, exatamente como fazem o Google e a Amazon, para facilitar a criação de programas. E também usa o que chamamos de blueprints, para permitir que cada usuário Subutai possa configurar uma pequena, ou mesmo uma gigantesca nuvem com milhares de sistemas, algo que também fica a critério do usuário”

Caninos Loucos

Parte dos esforços de Maddog em viabilizar o projeto da Subutai também se concentra fomento à criação de mercados verticais no Brasil para produção e venda de computadores single-board de baixo custo – algo em torno de R$ 200 – porém, em comparação a um Raspberry Pi, possui o dobro de RAM, usa USB 3.0, que é cerca de 10 vezes mais rápida que o padrão USB 2.0 da Raspberry Pi, além de executar aplicações cerca de duas a três vezes mais rapidamente, tornando-o ideal, inclusive para aplicações IoT seguras.

O projeto foi batizado de “Caninos Loucos”, já existe há 5 anos e conta com a parceria do Professor Dr. Marcelo Zuffo, da Universidade de São Paulo, para produção de computadores single-board no Brasil. A placa foi apresentada durante a Campus Party no início deste ano. Para a próxima Campus, daqui há apenas 2 meses, Maddog espera entregar cerca de 100 mil placas desses pequenos computadores, que fecharão o “Grand Slam” que ajudará, inclusive, a colocar o Brasil efetivamente na “corrida pelas criptomoedas” de uma forma mais robusta. Quer saber porque o Maddog escolheu justamente o Brasil para fomentar seu projeto? Assista abaixo à íntegra da palestra dele na Latinoware 2017:

*Jornalista viajou a convite da empresa 3DCloner[:]

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