Cultura Maker leva robótica educacional e empreendedorismo social para o coração da Amazônia
[:pb]Imagine ensinar crianças e adolescentes da região norte do país – mais precisamente Santarém e Manaus – os conceitos básicos do empreendedorismo digital tendo como base a robótica e a impressão 3D: desde 2012, o professor Enoque Alves, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), tem inspirado docentes e alunos a abraçarem uma causa que tem revolucionado o ensino em escolas e telecentros culturais localizados no coração da região amazônica.
Uma das “iniciadas” por Enoque a abraçar projetos de cultura maker em comunidades ribeirinhas no norte do país é a bióloga Adriane Gama, mestranda em Educação, que tem como objeto de pesquisa justamente as práticas colaborativas de cultura maker. Ao mergulhar neste universo, Adriane conta como foi a criação de oficinas de iniciação tecnológica envolvendo não apenas a impressão 3D, mas também servindo como estímulo à criatividade e autonomia de jovens alunos na busca de soluções práticas e sustentáveis para a realidade peculiar da região amazônica.
É o caso do aplicativo Embarcar, criado pelo aluno Maickson Santos para informar rotas, preços e venda de passagens, número de passageiros e outras informações relacionadas ao transporte hidroviário na Amazônia:
Outra iniciativa empreendedora é o Coletivo Puraqué, que existe há 16 anos e é formado por profissionais autônomos de diferentes áreas de atuação. A partir de uma parceria com o governo local e federal, o coletivo inspirou a criação da Casa Brasil de Santarém, sob coordenação de Adriane de 2009 a 2012, e que tem por objetivo aliar arte e tecnologia em oficinas de metareciclagem, robótica e informática. “Um dos espaços onde pretendemos atuar é em telecentros dentro da floresta, e será um desafio muito grande, porque temos pouco acesso à conectividade, mas são jovens e crianças que também têm o direito a essa cidadania digital”, conta Adriane. “Para isso, contamos com parcerias de cultura maker locais e também de outras regiões do país, além de docentes e pesquisadores de diversas áreas da UFOPA para disseminar essas práticas de cultura maker onde há pouco acesso de políticas públicas e educomunicação”.
Laboratório de Mídias Eletrônicas
Professor do curso de Computação da UFOPA, Enoque Alves sempre buscou estimular seus alunos a “criar coisas” usando Arduino e conhecimentos de programação. Um dos projetos destacados por ele é o Jabuti Edu, que tem por objetivo levar o ensino da robótica a crianças e adolescentes fazendo uso de uma plataforma simples baseada no microcomputador Raspberry Pi. O projeto tem abrangência nacional e é totalmente desenvolvido em software livre:
Objetos de aprendizagem 3D
Juntamente com professores de Matemática da Universidade, Enoque começou a pensar como usar a impressora 3D para ensinar a disciplina de forma prática para alunos do ensino médio. Da ideia, nasceram um cubo que “mostra” princípios de soma e raiz quadrada, e um triângulo inspirado no Teorema de Pitágoras. “De uma forma visual, conseguimos apresentar uma fórmula matemática que só se ensina como decoreba na escola”, conta Enoque.
“Inicialmente, eles duvidam do resultado. Mas mostramos como uma espécie de quebra-cabeças para instigar os alunos a montar e ver o resultado, com todas as peças produzidas usando uma impressora 3D”. Outra iniciativa do professor é a Semana de Tecnologias Educacionais, que acontece todos os anos em Santarém, no Pará.
Metareciclagem
Clayton Santos é professor do Centro Universitário Luterano de Santarém (ULBRA), e sempre foi mais envolvido com redes e segurança, mas desde 2013 começou a se envolver com cultura maker. Nessa época, passou a trabalhar na coordenação do núcleo de informática educativa junto à Secretaria de Educação do município de Santarém. “Logo que cheguei, me deparei com uma sala com mais de 200 monitores e computadores quebrados, então a primeira atividade foi trabalhar com oficina de metareciclagem”, conta. Da atividade, distribuída a instrutores de 72 escolas da região, foram criados de artesanatos a casinhas para animais e recipientes para coleta seletiva de lixo na região.
“Nosso desafio atualmente é propor atividades práticas para os alunos com base na arquitetura de computadores, usando Raspberry Pi e diferentes servidores”. Entre os projetos criados, estão uma chocadeira de baixo custo, e um driver de computador controlado por Arduino que se transforma em um player de mídia a partir do movimento do driver.
Robótica como objeto de pesquisa
Rodrigo Souza da Cruz é professor do IFPA e, assim como Adriane Gama, também é mestrando em Educação. Seu objeto de pesquisa é o ensino da robótica educacional nas escolas públicas, com o tema “Robótica educacional livre como recurso interdisciplinar”. A partir da aprendizagem baseada em projetos, a proposição do pesquisador é inverter a lógica tradicional da aprendizagem centrada no professor, com o aluno do ensino médio de cursos técnicos de informática sendo protagonista dessa aprendizagem, fazendo uso de equipamentos atualmente disponíveis como impressoras 3D, fresadoras, cortadoras CNC e hardware livre. “A questão interessante que envolve o movimento maker possibilita que o usuário não seja apenas mais um consumidor, mas também um construtor”, comenta Rodrigo.
Adriane Gama, Clayton Santos, Enoque Alves e Rodrigo Souza palestraram sobre o tema durante o Fórum Internacional de Software Livre (FISL) de 2016, e a apresentação na íntegra você confere no vídeo abaixo:
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