Um panorama da formnext 2018 por Gil Lavi, CEO da 3D Alliances
De 13 a 16 de novembro de 2018 aconteceu em Frankfurt, na Alemanha, a principal feira de Manufatura Aditiva Avançada do mundo: a formnext. De acordo com dados do site oficial do evento, cerca de 26.919 especialistas e gerentes de diversas áreas do conhecimento visitaram a exposição, que contou com mais de 156 novos expositores de 25 países, um aumento de 60% em relação ao ano passado.
Quem esteve lá foi Gil Lavi, CEO da consultoria 3D Alliances, um empreendedor que já foi executivo da Stratasys, onde trabalhou por 9 anos. Entrevistamos Gil para saber das novidades que a feira trouxe para o mercado este ano, e também dos rumos que a Manufatura Avançada tem tomado por parte das grandes empresas mundiais do setor. Sem esquecer, é claro, do papel fundamental das startups nesse contexto de transformação da economia global.
3DPrinting.: Você acaba de participar da Formnext 2018, uma das principais feiras de Manufatura Aditiva (MA) do ano. Acho que os leitores do 3DPrinting estão tão animados para saber quanto você para nos contar as novidades que viu por lá. O que mais te impressionou na Formnext 2018, e por quê?
Gil Lavi.: Sim, essa é a minha 13º participação consecutiva e, como sempre, tem sido muito bem sucedida, com mais de 600 expositores apresentando as mais novas tecnologias na área. O que mais me impressionou é o fato desse mercado continuar a crescer rapidamente, e a variedade de novas empresas de impressão 3D vindas de todo o mundo com soluções exclusivas, tanto em plástico quanto em metal.
3DPrinting.: Ainda sobre a Formnext 2018, o que despertou mais a sua atenção entre aquilo que é absolutamente novo e o que já está “maduro” nas tecnologias de impressão 3D, que possa nos dar uma pista de onde a indústria Manufatura Aditiva tem caminhado para os grandes players do mercado?
Gil Lavi.: Sem dúvida surgiram novas soluções em metal muito interessantes, pois esse segmento continua crescendo rapidamente. No ano passado, mais de 500.000 impressoras 3D foram vendidas globalmente, 95% eram desktop e, das 5% restantes, apenas 1.500 eram de metal. Então, o potencial é enorme quando olhamos para os próximos anos.
Para mim, parece haver uma divisão em 3 tipos de soluções:
- Soluções de nível de entrada para modelagem de conceito
- Soluções intermediárias, mais profissionais e com variedade de materiais para aplicações. Essas soluções são para prototipagem mais funcional
- Soluções de produção, onde sistemas mais pesados têm como objetivo oferecer soluções para produção de peças para uso final de médio e longo prazo
Quanto aos maiores players do mercado, como a GE, HP etc, eles estão claramente visando as soluções de produção.
3DPrinting.: Você acaba de fundar a 3D Alliances Ltd., “uma empresa de consultoria especializada em implantação e gerenciamento de redes de canais para empresas de impressão 3D” (de acordo com o site oficial). Porque sentiu a necessidade de criar esse projeto em particular, e como você acha que ele será capaz de fomentar iniciativas envolvendo tecnologias de impressão 3D em todo o mundo?
Gil Lavi.: A implantação de canais é gerenciada atualmente pelas próprias empresas de impressão 3D. Os grandes players do mercado (HP, SSYS, DDD, MarkForged, Formlabs etc.) podem se dar ao luxo de ter gerentes de canal experientes para um mínimo de três regiões – EMEA, América e Ásia. No entanto, das 500 empresas do mercado que lidam diretamente com o desenvolvimento e a venda de impressoras 3D, há muitas empresas inovadoras de pequeno e médio porte (de 20 a 100 funcionários) que negociam com o primeiro e o segundo produto. A maioria dos funcionários é formada por profissionais de P&D, finanças, logística e tecnologia, enquanto que, para vendas/gerenciamento de canais, são empregadas uma ou duas pessoas.
Onde está o problema? Na maioria dos casos, eles empregam pessoas com pouca experiência gestão do recrutamento de canais de impressão 3D, uma que eles não podem arcar com os custos de contratação de um ex-gerente que tenha trabalhado em grandes empresas (o fluxo de receita dessas empresas ainda não vingou, logo não há caixa suficiente para isso). Não pretendemos substituir os gerentes de canais, mas ajudá-los a acelerar o processo de busca, filtragem, escolha e gerenciamento de seus canais de vendas, bem como definir a metodologia de gerenciamento correta com os parceiros atuais. Acreditamos que esse tipo de serviço seria atraente para empresas que estão prontas para vender seus produtos globalmente e também poderia atender a revendedores 3D que, muitas vezes, acham difícil rastrear e filtrar novas soluções promissoras no mercado.
3DPrinting.: Você trabalhou junto aos grandes players de Manufatura Aditiva nos últimos anos, como a Stratasys. Mas qual a sua visão sobre as startups de impressão 3D? Elas têm alguma chance enquanto competem com as gigantes do mercado? É uma competição “justa”? Qual seria um bom caminho para se diferenciar da multidão?
Gil Lavi.: Boa pergunta. O que impulsionou a inovação nesta indústria nos últimos 3 a 4 anos foram justamente as startups. Elas vieram com novas soluções que oferecem uma abordagem diferente que permite explorar a variedade de materiais, a maior velocidade de impressão e menores custos gerais de propriedade e custo por peça.
Isso também motivou grandes empresas do setor a acelerar o desenvolvimento de seus produtos para que os usuários finais possam se beneficiar dessa situação. “Para manter-se relevante e não ficar ‘perdido na multidão’, as startups de impressão em 3D devem ter uma proposta de valor única que as outras empresas, sejam grandes ou pequenas, simplesmente não têm. Se a tecnologia estiver protegida com patentes – melhor ainda.”
3DPrinting.: Vamos tomar o mercado brasileiro como exemplo: atualmente, temos apenas 1% de desenvolvimento nacional envolvendo tecnologias de impressão 3D. Então, está claro que há muito por vir em termos de conhecimento e pesquisa científica – e também muitas oportunidades de negócios. Mas nos falta conhecimento adequado na área de impressão 3D – apesar de termos incontáveis fornecedores focados apenas em vender máquinas. Poderíamos dizer que isso acontece porque é um processo normal começar desta forma e disseminar a tecnologia primeiro? Ou seria crucial para o Brasil começar a estabelecer uma base de conhecimento, incluindo tantos cursos profissionais quanto possível em diferentes áreas? (por exemplo: Arquitetura, Design, Odontologia, Materiais, Bioprinting e assim por diante); Você acha que startups de impressão 3D também poderiam ajudar a superar problemas burocráticos em países com leis desatualizadas como o Brasil?
Gil Lavi.: Eu acho que existe uma correlação entre o nível de pesquisa e desenvolvimento ao redor da impressão 3D em um país específico com o nível de conscientização e de curva de adoção por parte das indústrias locais. Tome a Holanda e a Polônia, por exemplo: dois países onde estão estabelecidas apenas algumas empresas de impressão 3D, sendo que a integração da impressão 3D com as indústrias locais entre esses países é muito bem-sucedida. Então, se mais investimentos chegarem aos empreendedores locais no Brasil, acredito que isso impulsionará a conscientização e adoção locais.
3DPrinting.: Você é de Israel, e no site da 3D Alliances, há uma colocação interessante a respeito: “A empresa está localizada em Israel, o coração da indústria de impressão do mundo, e a sede das principais empresas de impressão 3D”. Como a Indústria de impressão 3D está se expandindo por lá, você poderia nos contar um pouco mais a respeito? É seu objetivo concentrar-se primeiro no desenvolvimento do seu país e depois expandir para o mundo?
Gil Lavi.: A primeira grande empresa de impressão 3D de Israel – a Scitex (hoje Kodak) foi estabelecida em 1968. No início dos anos 90, outra grande empresa de impressão juntou-se ao mercado – a Indigo (hoje faz parte da HP). Da união dessas duas empresas nasceu a Objet, em 1998, sendo que até hoje existem quatro empresas líderes em impressão 3D – Stratasys, Xjet3D, Massivit3D e Nano Dimension e mais de uma dúzia de startups também.
Portanto, a impressão 3D está bem integrada no setor de pesquisa e desenvolvimento das indústrias locais, principalmente em Aeroespacial, aviação, educação e outros, e também existe muito conhecimento aqui. Meu objetivo com a 3D Alliances é construir o maior hub global que conecte empresas inovadoras de impressão 3D e revendedores 3D em todo o mundo. Assim, Israel seria o lugar certo para manter minha empresa, mas o foco e o maior desafio é apoiar empresas de impressão em 3D de todo o mundo a implantarem suas redes globais de canais, começando pela Europa, América e Ásia.