Roberto Camanho na #I3DPConf: uma provocação sobre o futuro

[:pb]Semanas atrás entrevistamos Roberto Camanho, professor da ESPM, e publicamos com o sugestivo título “Revolução Industrial 4.0 e darwinismo digital: o que a impressão 3D tem a ver com isso?”. Semana passada, na abertura do Inside 3D PrintingCamanho explorou o tema lançando uma luz ao futuro – nada distante, aliás – da impressão 3D no contexto do trabalho e dos meios de produção.

Já de cara, uma dura lição: “No que nós somos formados, não irá nos levar até o fim da vida como foi com nossos pais. Não tem como fugir disso. Então o melhor que podemos fazer é aceitar e entender, e de uma forma melhor ainda: aproveitando o melhor disso, porque abre um universo de possibilidades”, sentencia Camanho, que viveu uma trajetória interessante no mundo da computação e da robótica logo nos primórdios.
O professor conta que, um dia, aos 40 anos de idade, descobriu que o que ele fazia já não despertava mais nenhum interesse para o mercado. “Nós gostamos tanto de tecnologia que esquecemos que o nosso interlocutor precisa entender o que estamos falando, e dentro da cabeça dele aquela necessidade precisa existir, senão ele só acha ‘bacana’”, explica. Em outras palavras, o que ele quer dizer é: se na cabeça do consumidor não há a necessidade, você não tem para quem vender. E lembra que a necessidade é o combustível que nos move para a (r)evolução.

Revolução 4.0



Na visão de Camanho, “toda evolução gera um movimento social”, e não por acaso vivemos uma espécie de evolução das revoluções industriais, iniciada há mais de 200 anos, com a máquina a vapor, em uma rápida cronologia:

1784: Energia da água e do vapor para mecanizar a produção, o que gerou muito movimento social na época, com muita gente vindo do campo para as cidades

1870: Energia elétrica, produção em massa, linhas de montagem e divisão dos trabalhos, o que gerou a cobrança do ser humano trabalhar como máquina. Daqui também provém a ideia de que somente o gestor era capaz de pensar, os que estivessem abaixo dele só executavam. (Vide “Tempos Modernos” de Chaplin)

1960: Computadores no chão de fábrica. Automação da manufatura. Foi quando surgiu o comando numérico, depois o comando numérico computadorizado e os robôs

2016: Tecnologia de sensoriamento, interconectividade, integração da cadeia de valores. Nesta fase, as máquinas são capazes de comunicar o que está acontecendo na produção para frente e para trás aos fornecedores da cadeia.

Observe o salto de metade do tempo entre as duas evoluções mais recentes com as duas primeiras do passado, o que denota como a tecnologia tem evoluído rapidamente, sobretudo no que se refere à indústria.

O termo “4ª revolução industrial” surgiu na Europa, em janeiro de 2016, durante o Fórum Econômico Mundial, quando do lançamento do livro homônimo de Klaus Schwab. “O termo 4ª revolução industrial nada mais é do que uma necessidade da comunidade européia de reagir a uma perda na indústria ou na produção da Europa”, explica Camanho. “E, novamente, foi a necessidade que trouxe essa transformação”. Esta não é, porém, uma preocupação puramente tecnológica.


“Para Schwab, estamos à frente de mudanças extremamente disruptivas da nossa experiência como ser humano – que é o que já estamos vivendo. Mas, ainda procuramos entender coisas novas com ferramentas antigas“

 

E onde é que entra a impressão 3D nesse contexto?



A impressão 3D se encaixa – no contexto de tecnologias disruptivas aplicadas em conjunto – na conversão do digital para o físico. Mas, para além da preocupação com o humano, há também uma preocupação com a sustentabilidade que não havia no passado. Agora, com todo o ferramental à disposição, já podemos testar e dar um passo de cada vez.
A respeito disso, Camanho oferece uma dica valiosa: “Procure fazer automação em degraus pequenos de tal forma que cada passo seja uma certeza quase absoluta de sucesso. Não queira dar um grande passo para automatizar, porque se houver um desastre você abandona tudo”, diz. “E faça automação seletiva: o dinheiro que você ganhou com isso, invista no próximo sucesso, e assim sucessivamente. É preciso ter maturidade para ter automação”.

O fim da posse

 

O conceito de propriedade passa a ser diferente do convencional: agora, pagamos apenas por aquilo que vamos usar. E isso trará uma profunda mudança no mercado, o que evidentemente também acarretará em uma mudança do modelo mental (mindset). Daí o termo cunhado por ele, de “darwinismo digital”, citando Charles Darwin, quando professa: “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que se adapta às mudanças”.

No auge da sua experiência como empreendedor e “curioso” para aprender mais sobre as mudanças ao longo da carreira, Roberto Camanho compartilha 4 visões importantes:

– Como agir vale mais do que o que fazer (como vamos ter que agir daqui pra frente, para entender primeiro, e depois mudar)
– É preciso ser vigilante (há fenômenos que evoluem exponencialmente, como aconteceu com a Kodak)
– Incentivar o fluxo de conversas (o conhecimento, a criação de valor e a inovação são gerados por meio do compartilhamento e negociação dos objetivos e das tarefas)
– Administrar o informal (os comportamentos das pessoas são determinados tanto por respostas emocionais quanto por argumentos lógicos – e o primeiro raramente segue o último. É aí que entra o processo informal)

 

Veja abaixo a palestra de Roberto Camanho na íntegra durante o Inside 3D Printing São Paulo:

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