PLA X ABS na impressão 3D: Quem ganha essa briga?

Por Guilherme Razgriz*

Muito se diz que o material “ideal” para os iniciantes no mundo da impressão 3D é o famoso PLA (polímero) por imprimir em mesa fria, ter um aspecto mais “brilhante” e não apresentar o tão temido “efeito warp” (para resumir, o warp nada mais é do que o encolhimento que a peça sofre pela rápida perda de temperatura, efeito que é geralmente causado por fatores como: rajadas de vento dentro da área de impressão, janelas abertas em dias muito frios ou mesmo ventiladores ou ar condicionado posicionados na frente da impressora a uma curta distância etc), além de ser “ecologicamente correto” por ser biodegradável e produzido a partir de fontes renováveis… mas… e esse tal de plástico ABS? Será que ele é realmente tão temido assim? O que é possível fazer com ele? Porque devo pensar seriamente em imprimir com ele?

Primeiro vamos examinar rapidamente como imprimir em ambos os casos, PLA e ABS.

Para imprimir com ABS você vai precisar de:

 

Impressora com mesa aquecida – Se sua impressora não possui uma mesa aquecida, infelizmente você não poderá imprimir usando ABS ou materiais que necessitem de calor para aderência na mesa.

Material colante – Este material tem como serventia ajudar na aderência das primeiras camadas à mesa de impressão, evitando, assim, o descolamento da peça e a consequente perda do trabalho. Hoje existem mais de 8 opções de materiais para este fim, porém, para este artigo nos concentraremos em apenas duas para o ABS.

Cola bastão – Não tóxica e muito prática de se usar, apenas uma aplicação de fina camada sobre a área de impressão é o suficiente para obter bons resultados em até 5 impressões seguidas. Além disso, a cola bastão tem a vantagem de sair com água, não deixando praticamente nenhum resíduo na peça a ser impressa. Para melhores resultados, recomendo o uso da marca “3M” em diversos testes, e a comunidade RepRapBR também a considera uma boa escolha para o serviço.

Spray fixador de cabelo (laquê) – Extremamente forte, segura praticamente qualquer coisa na mesa bastando uma fina aplicação a uma certa distância da mesa, não menos que 10 cm; o uso em demasia pode até mesmo delaminar o vidro em casos mais graves, mas, ainda sim, é uma excelente opção para grudar peças consideradas grandes. A comunidade RepRapBR recomenda o uso do padrão “extra forte” da marca “Karina” pelo cheiro causar menos incômodo (há controvérsias) e pela fórmula fixar mais que as outras.
CUIDADO: O spray de cabelo é inflamável, evite deixá-lo em ambientes fechados e quentes por muito tempo.

Local – Certifique-se de estar em um ambiente com temperatura estável e sem vento próximo à impressora.

Pinça para limpeza de Nozzle: Uma pinça padrão de informática é ideal para tirar residuos de filamento presos ao bico para deixa-lo pronto para novos trabalhos.

Esponja e detergente neutro para louças – Estes últimos servem para lavar o vidro da mesa quando houver perda na aderência proporcionada pelo colante. Recomendo o detergente neutro pois ele não deixa cheiro (a menos, é claro, que você goste de cheiro de pinho ou lavanda =]

Pedaço de tecido – Pano macio e seco para secar o vidro.

Álcool isopropílico: Serve para remover a gordura do vidro e ao mesmo tempo aumentar a eficiência do colante; use em doses pequenas e com muita moderação. =]  

Hora de imprimir

Esqueleto da cabeça de um dinossauro sendo impresso em ABS.


Para imprimir com ABS primeiro aplique o colante na mesa e a aqueça até chegar pelo menos aos 105ºC. Existem pessoas que começam a imprimir com até menos que isso, pois o material colante geralmente a partir dos 97ºC já consegue segurar bem a peça na mesa. Deixo aqui livre esta “regra” para que você possa testar à sua maneira =]. Enquanto a mesa aquece você pode dar o home para todos os eixos e verificar a altura do Nozzle, carretel de filamento e o que mais achar necessário. Ao aproximar da temperatura ideal da mesa, aqueça o hot end até a temperatura indicada pelo seu fabricante de filamento favorito, geralmente o bom ABS costuma ficar entre 215ºC e 230ºC.  

Isso é o básico para que a sua impressora possa fazer um bom trabalho. Mas, antes disso, vem a sua parte que começa na preparação do arquivo, bem antes de ligar a sua printer!  

Preparando o arquivo para imprimir

 

Após modelar ou baixar o arquivo STL você precisa configurá-lo de forma que se possa obter o melhor resultado possível na impressão baseado no tempo disponível que você tem para realizar a tarefa. Aqui seguem algumas dicas na utilização de um dos melhores slicers de código aberto existentes, o Cura 15.4.2:

Interface do programada gráfico Cura 3D versão 15.4.2.



Altura das camadas – Com certeza quem já possui uma impressora 3D já deve ter ao menos ouvido falar sobre isso: quanto menor for a altura da impressora, melhor será a qualidade final do trabalho =]

Retração de filamento – Permitir a retração faz com que o extrusor possa puxar o filamento para fora do hot end, evitando que seja aplicado aonde não deve na peça. Esse recurso é muito útil para manter a qualidade da peça, porém, algumas peças muito complexas podem gerar movimentos excessivos, deformando, assim, a ponta do filamento dentro do hot end e podendo inclusive provocar o entupimento do nozzle. Por hora não há razão para se preocupar pois isso é raro de ocorrer em peças padrão.

Preenchimento – Este ajuste determinará a resistência que a peça terá e não a sua aparência, ou seja, quanto maior for o preenchimento mais resistente a peça será, normalmente 20% a 25% atende a grande maioria dos projetos que você poderá fazer.

Temperatura da mesa, do hot end e velocidade da impressão – Estes ajustes podem ser colocados aqui para que ao gerar o gcode eles sejam informados ao LCD da impressora (caso você possua uma  com leitor LCD) para impressão direta; caso você não possua LCD ou não goste de imprimir com ele, deixe as temperaturas zeradas para informar direto ao printerhost. Recomendo fortemente uma velocidade de impressão entre 30 mm/s e 60 mm/s, pois uma velocidade alta pode provocar perda de passo nos motores da impressora e, consequentemente, perda de qualidade de impressão da peça. =]

Agora é a vez do PLA:

 

Para o PLA a nossa “cesta básica” é bem parecida com a do ABS, mudando apenas a metodologia de impressão e acrescentando um material colante em detrimento de outro. Vamos a elas:

Ao invés do spray de cabelo, utilize fita azul de pintor – Similar a uma fita crepe, este material possui boa adesão de peças com mesa a frio evitando o descolamento. A fita costuma durar de 5 a 8 impressões depois de aplicada, fora isso a sua substituição se faz necessária caso ela sofra avaria durante a retirada de alguma peça. Quanto à cola bastão, ela também pode sim ser utilizada e a mesa deve ser aquecida entre 60ºC e 70ºC, o que irá fazer com que a peça fique bem presa à mesa e é também uma das formas mais práticas e limpas de se imprimir.

Dica importante: Procure deixar o nozzle bem perto da mesa para garantir uma boa adesão entre as camadas e antes de pensar em imprimir, verifique se a sua mesa está realmente nivelada, isso vai evitar boa parte dos problemas ao imprimir com estes materiais.

Beleza! Já sei como imprimir mas como evitar que ISSO aí embaixo aconteça?

 

Efeito warp em ação: deformidade na peça pode ser evitada com uso de um bom filamento.


Além das dicas supracitadas, a melhor maneira de conseguir bons resultados é usar um filamento de boa procedência e qualidade. Hoje temos uma fabricante nacional que usa a tecnologia Warp Reducer – que garante warp praticamente zero em todas as peças impressas com carretel. 

E, por fim: Porque imprimir com ABS, mesmo?

 

Vou dar apenas algumas razões:

1. O PLA começa a derreter a partir de 60ºC, ou seja: se uma peça ficar exposta ao sol, ou dentro de um carro, ou mesmo se tiver contato com uma superficie quente, irá deformar, sendo inutilizada na sequência.

2. O PLA é duro, mas tão duro, que chega a ser frágil pois não possui flexibilidade alguma! Portanto, uma queda pode estilhaçar a peça.

3. Quer imprimir engrenagens funcionais, peças e parafuso trator para sua extrusora? O ABS é o material ideal, pois não provoca tanto atrito e costuma durar anos, sem necessidade de troca, enquanto que as mesmas peças em PLA costumam durar de 15 a 20 dias dependendo, do volume de impressão.

4. O ABS resiste bem ao tempo e aceita pintura altomotiva. Acabamentos incríveis também podem ser feitos com vapor de acetona.

5. Os carretéis mais novos dos fabricantes possuem cores mais brilhantes e intensas que duram muito mais.

6. ABS é um material que não pega umidade tão rápido quanto PLA, podendo ficar exposto por mais tempo sem prejuízo às peças.

Acredito que agora você tem motivos mais que suficientes para tentar novos materiais! Dito isso, nos vemos em nosso próximo assunto!  =]

* Artigos assinados não refletem, necessariamente, a visão da nossa linha editorial, mas do autor do texto.

10 thoughts on “PLA X ABS na impressão 3D: Quem ganha essa briga?

  • 15 de novembro de 2015 em 22:07
    Permalink

    Então… comecei a imprimir a pouco (primeiro estava xingando o MicroStation) e lendo o artigo me dei conta de uma coisa: Minha Wanhao não tem mesa de vidro! Estou imprimindo com o PLA que me foi fornecido \”de brinde\” diretamente na mesa aquecida, sem cola nem nada. Tem risco de danificar alguma coisa?
    Aliás, o fan do tracionador veio danificado da China, tenho de consertar isso definitivamente.
    A primeira peça \”de verdade\” que imprimi foi um conjunto de acionadores de saida de ar-condicionado de carro e já vi que vou ter de trocar de material. O PLA é duro demais não permitindo a deformação necessária para o encaixe da peça nas palhetas. Estou em dúvida só se compro ABS ou ABS flex.
    Abraço!

    Resposta
    • 29 de setembro de 2016 em 13:53
      Permalink

      Marcelo, você tem que colocar o vidro sobre a mesa, senão danificará sua mesa, além de ela não ser lisa. Sobre o material, para peças plásticas de saida de ar condicionado de carro o melhor é ABS e não ABS flex.

      Resposta
  • 15 de novembro de 2015 em 22:07
    Permalink

    Então… comecei a imprimir a pouco (primeiro estava xingando o MicroStation) e lendo o artigo me dei conta de uma coisa: Minha Wanhao não tem mesa de vidro! Estou imprimindo com o PLA que me foi fornecido \”de brinde\” diretamente na mesa aquecida, sem cola nem nada. Tem risco de danificar alguma coisa?
    Aliás, o fan do tracionador veio danificado da China, tenho de consertar isso definitivamente.
    A primeira peça \”de verdade\” que imprimi foi um conjunto de acionadores de saida de ar-condicionado de carro e já vi que vou ter de trocar de material. O PLA é duro demais não permitindo a deformação necessária para o encaixe da peça nas palhetas. Estou em dúvida só se compro ABS ou ABS flex.
    Abraço!

    Resposta
    • 29 de setembro de 2016 em 13:53
      Permalink

      Marcelo, você tem que colocar o vidro sobre a mesa, senão danificará sua mesa, além de ela não ser lisa. Sobre o material, para peças plásticas de saida de ar condicionado de carro o melhor é ABS e não ABS flex.

      Resposta
  • 6 de janeiro de 2016 em 22:24
    Permalink

    Olá! Tenho uma UP! Mini, que tem a cabine fechada, mas mesmo assim acontecem deformações pequenas nas peças imprimindo em ABS. Já verifiquei que a cabine não é totalmente fechada, e por isso acredito que o problema seja a temperatura ambiente. Mas, qual a temperatura ambiente ideal para que a peça em ABS não sofra deformação?
    Abraços!

    Resposta
    • 16 de dezembro de 2016 em 04:58
      Permalink

      Dependendo do fabricante o problema pode estar na composição do material em si, isso também pode ocorrer pelo excesso de curvatura da peça. Recomendo que você tente usar os compostos de abs mais novos que são bem menos sujeitos a estes efeitos indesejáveis =]

      Resposta
  • 6 de janeiro de 2016 em 22:24
    Permalink

    Olá! Tenho uma UP! Mini, que tem a cabine fechada, mas mesmo assim acontecem deformações pequenas nas peças imprimindo em ABS. Já verifiquei que a cabine não é totalmente fechada, e por isso acredito que o problema seja a temperatura ambiente. Mas, qual a temperatura ambiente ideal para que a peça em ABS não sofra deformação?
    Abraços!

    Resposta
    • 16 de dezembro de 2016 em 04:58
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      Dependendo do fabricante o problema pode estar na composição do material em si, isso também pode ocorrer pelo excesso de curvatura da peça. Recomendo que você tente usar os compostos de abs mais novos que são bem menos sujeitos a estes efeitos indesejáveis =]

      Resposta
  • 25 de março de 2017 em 12:32
    Permalink

    Razgriz,
    Por falar em temperatura, vc tem experiencia ou artigo sobre filamentos que utillizam misturas (blends) como metais para aumentar a eficiencia em trocas termicas para trocadores de calor?
    Alem da melhora na troca termica, aumento na resistencia a temperaturas elevadas com mix de metais ou outros materiais melhoram estas propriedades em relação a plasticos de engenharia, em quanto?
    Quais filamentos recomenda?
    Obrigado

    Resposta
  • 25 de março de 2017 em 12:32
    Permalink

    Razgriz,
    Por falar em temperatura, vc tem experiencia ou artigo sobre filamentos que utillizam misturas (blends) como metais para aumentar a eficiencia em trocas termicas para trocadores de calor?
    Alem da melhora na troca termica, aumento na resistencia a temperaturas elevadas com mix de metais ou outros materiais melhoram estas propriedades em relação a plasticos de engenharia, em quanto?
    Quais filamentos recomenda?
    Obrigado

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