Impressão 3D e a Biomecânica aplicada às próteses de membros superiores
Quantos de nós já paramos para pensar em como é fundamental o movimento de preensão das nossas mãos? Preensão? Confesse: você provavelmente teve que consultar o dicionário para descobrir que preensão é o “ato ou efeito de agarrar, pegar, segurar”. Parece algo muito simples. Mas, na prática, é necessária uma intrincada rede de músculos, ossos, tendões e ligações nervosas para o movimento de preensão das mãos acontecer e alcançar seu objetivo, seja para pegar um copo, segurar uma caneta ou mesmo agarrar seu pet e levá-lo aos braços. (A preensão é classificada em 3 grupos na Biomecânica: digitais, palmares e centradas – veja vídeo abaixo).
Agora imagine uma pessoa que, por alguma razão, tenha perdido a mão (ou as mãos), ou mesmo o braço (ou ambos). Antes, uma observação importante: claro que a pessoa em questão também poderia ter nascido sem uma das mãos ou braços, mas há uma grande diferença entre possuir uma deficiência de nascença e adquiri-la posteriormente, ao longo da vida. Essa diferença se destaca justamente quando essa pessoa decide buscar a ajuda auxiliar de uma prótese de membro superior – mão, braço ou antebraço – com o intuito de melhorar sua qualidade de vida de uma forma geral.
Algo que, para o professor de Engenharia Biomédica Wagner Monteiro, leva ao primeiro questionamento: “Qual a necessidade de um(a) paciente que vai receber uma prótese”? “Imagina a pessoa que não tem o segmento e ganhou uma prótese, a quantidade de informação sensorial que essa pessoa perdeu, ela vai ter que readquirir com o que sobrou, é um prejuízo muito grande”, resume o professor. O que também nos ajuda a entender a diferença entre nascer com uma deficiência de membro superior e ter que amputá-lo posteriormente – o que obriga o paciente a reaprender a coordenação dos movimentos do membro amputado.
No entanto, segundo o professor, a grande questão é: quais movimentos devem ser readquiridos? Você poderia responder: todos, claro! Mas não é bem assim. Primeiro, porque é praticamente impossível (ainda) reproduzir com absoluta perfeição e correção todos os movimentos coordenados de mãos, braços e antebraços; segundo, porque igualmente impossível o enorme esforço necessário para que o paciente reaprendesse todos os movimentos perdidos com o membro amputado. “É aí que a solução passa a ser: uma prótese mais estética ou uma prótese mais funcional? Qual a necessidade do paciente nesse sentido?”, comenta o professor Wagner Monteiro.
Um dos principais problemas atuais é a integração das pessoas com algum tipo de deficiência nas tarefas do cotidiano. A Biomecânica, juntamente com a impressão 3D/manufatura aditiva, é capaz de intervir em campos da ciência onde pensava-se não ser possível alcançar diretamente, aliando Engenharia, Mecânica, Matemática e Física à Medicina (além de outras muitas áreas correlatas não mencionadas aqui).
“Os conceitos de Biomecânica aplicados à reabilitação vêm permitindo o desenvolvimento de dispositivos ortopédicos e protéticos inteligentes, funcionais e estéticos, efetivamente contribuindo para a melhoria da qualidade de vida de deficientes físicos”
No vídeo abaixo, gravado durante o evento “I Escola de Inverno de Biomecânica da UNIFESP”, realizado há cerca de um ano em São José dos Campos e organizado pela Prof. Dra. Maria Elizete Kunkel, você verá uma verdadeira aula sobre a importância de se levar em conta todos os elementos – não apenas estéticos, mas sobretudo funcionais – ao se pensar em imprimir uma prótese de mão para ajudar alguém: